quarta-feira, 9 de setembro de 2009

UM INSULTO ÀS INSTITUIÇÕES E AO POVO DE ENTRONCAMENTO.



A homenagem a José Duarte Coelho é mais uma peça na «arte» de branquear o fascismo. “Grandes Portugueses”, “Museu de Salazar”, símbolos do nazi-fascismo pintados nas paredes e em murais, prosas mais ou menos trabalhadas pelos ideólogos de serviço, bustos dum ou de outro fascista local a surgir aqui e além, são peças do mesmo puzzle, que por vezes assumem certos disfarces e contam com a cumplicidade (às vezes passiva) de sectores da sociedade actual que, não sendo fascistas, gostam de jogar também com essa carta atrás das costas.
É nesse puzzle que nos vemos obrigados a enquadrar a recente inauguração de um busto do fascista José Duarte Coelho no Entroncamento e da menos recente colocação da sua fotografia na sala de sessões da Câmara Municipal e na Junta de Freguesia, ao lado dos legítimos representantes do povo, eleitos em eleições livres e democráticas. Como se os segundo fossem da laia do primeiro – um insulto às instituições e ao povo de Entroncamento.
Também aqui, como noutras situações idênticas, se omitem dados factuais e se usam metodologias que assentam na mera recitação documental das entidades políticas e repressoras do regime fascista. De facto, quando se fala da “obra” de José Duarte Coelho, a que documentação se recorre? Será “justa e merecida a homenagem” ao homem que, logo em 1926, após o golpe de 28 de Maio, com a ascensão da repressão e da ditadura, assume lugar de destaque na política local?
Durante todos esses anos em que José Duarte Coelho foi o representante local do estado fascista, desenvolveram-se, nesta terra, lutas por Direitos, Liberdades e Garantias, uma das quais se faz eco o jornal Avante n.º 164 de Janeiro de 1952 onde se dá conta da “campanha de terror e intimidação contra o povo de Entroncamento, começada há tempos com a prisão de vários ferroviários”. Onde estariam nesta altura e em tantas outras, as autoridades locais? Certamente a fazer “obra”… http://www.ges.pcp.pt/bibliopac/imgs/AVT6164.pdf Pena é que muitos desses lutadores, democratas e antifascistas, não estejam já no mundo dos vivos para poderem testemunhar, de viva voz, quem realmente foi essa personagem.
Erradamente, atribuem-se-lhe “benfeitorias” e “obra” no Entroncamento que, com ele ou sem ele, teriam acontecido. A junção de terrenos de duas freguesias pertencentes a dois concelhos era uma necessidade objectiva assim como o era a sua transformação em vila - decorrem de condições históricas em que o caminho-de-ferro teve papel determinante, lhe deu o nome e lhe foi traçando o desenvolvimento desde 1862.
O sector mais reaccionário e saudosista do PSD local, como principal promotor dessa iniciativa, não tem legitimidade democrática para a levar por diante. Não lha deu o povo do Entroncamento e, estamos em crer, nem sequer a sufragou nos Órgãos Autárquicos onde o deveria ter feito.
O Entroncamento tem, desse período da ditadura fascista, uma história colectiva ainda com muito por contar. Àqueles que nos acusam de pretendermos apagar a História, dizemos que a queremos bem viva e contada àqueles que a não viveram, para que seja possível dizer sempre: Fascismo nunca mais!
Entroncamento, 7 de Setembro de 2009
A Comissão Concelhia do Partido Comunista Português