A Dulce reside no Entroncamento, é recenseada na freguesia de S João Batista, foi candidata pela CDU no Entroncamento nas eleições autárquicas de 2005 e está presente nesta sala.
Quando a convidámos para fazer esta intervenção alusiva ao 25 de Abril, o único objectivo que nos moveu foi, à semelhança de anos anteriores, darmos a palavra aos jovens. A intervenção vai ser lida por mim e não por ela, apenas porque tal nos foi imposto. Mesmo assim, valeu a pena. Em nome da CDU, Obrigado Dulce.
Pertenço a uma geração nascida depois de 1974, caracterizada por alguns como “os filhos da abundância” e descrita por outros como “a geração rasca”; rótulos à parte, é justo afirmar que somos os herdeiros de uma Revolução.
Não se tratou de um apontamento histórico evolutivo, nem de um episódio merecedor de rodapé em determinadas biografias: foi uma Revolução!
Independentemente dos avanços e dos recuos relevam-se o salto qualitativo no pensamento social e uma referência de conquistas históricas para as gerações. Foi uma revolução democrática que nos reconciliou com o mundo e com os povos irmãos.
O tempo é irreversível por isso viver o passado é nostalgia, mas os ideiais que moveram Abril não foram particulares da História do nosso país: são universais.
Numa época em que a palavra globalização é repetida nos media e invocada como palavra de ordem, os jovens têm contribuído para chamar a atenção para os seus perigos: o mundo não é só a mundialização que nos querem impor.
Para além daquilo que surge nos noticiários ou dos resultados em pesquisas na Internet, o mundo é composto por territórios, paisagens, pessoas e estruturas sociais em constante transformação.
Antes do 25 de Abril, muitos dos jovens que hoje têm a idade da Revolução não teriam tido a oportunidade de estudar ou conseguir concluir um percurso académico;
hoje, ao invés de se encontrarem formas de rentabilizar tal mais-valia, sublinham-se as taxas de desempregados com ensino superior, provocadas pelo desinvestimento do Estado como criador de empresas e pela ignorância e falta de formação dos empresários, mais apostados em mão de obra sem direitos; isto sem falar do exército dos restantes desempregados e de tanta precariedade a que se assiste hoje no mundo do trabalho.
Antes do 25 de Abril, grande parte desses mesmos jovens teria sido mobilizada para a guerra colonial a que o regime chamava de ultramarina; hoje, é nas Forças Armadas que muitos deles encontram uma profissão, embora frequentemente temporária e precária.
Quando o Movimento das Forças Armadas - em 1974 - desencadeou a movimentação que pôs em marcha o 25 de Abril, representava muito mais que o movimento: o M.F.A. encarnava todo um país.
O M.F.A. era Portugal: um país contra uma guerra imperialista, contra uma polícia política implacável, contra a exploração do Homem pelo Homem.
Com a Constituição de 1976, a República Portuguesa assumiu-se como a expressão democrática de todos os portugueses, com direitos liberdades e garantias.
A sociedade portuguesa transformou-se e continuará a transformar-se: os tempos contemporâneos – dos quais o país esteve afastado sob o nevoeiro da ditadura – marcam-se pela rapidez com que os acontecimentos internacionais influenciam o nosso quotidiano.
Ao contrário da década de 70, na actualidade, é mais fácil aos jovens alienar-se daquilo que sucede para além do seu círculo de relações.
Mas cada geração tem as suas batalhas: outrora a luta era pelo direito a um regime democrático, hoje a luta é pela participação dos cidadãos nesse mesmo sistema e pela defesa de direitos adquiridos que começam a ser-lhe negados e, contradição das contradições, direitos que a Constituição da República Portuguesa actualmente consagra.
A cidadania é o elemento fundamental da democracia: ser-se cidadão (ou cidadã) implica estar consciente. Como dizia Brecht, “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguer, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas…”
Não se é cidadão de corpo inteiro exercendo apenas o direito de voto, muitas vezes, com base em campanhas políticas demagógicas, populistas e promessas eleitorais de uma superstrutura ideológica que manipula o pensamento, distorce os factos e subjuga as vontades.
Não é suficiente votar e esperar resultados, num modelo formal, como num passe de magia legislativa. A democracia só o é quando os cidadãos a exercem na sua plenitude.
A participação na sociedade não se pode limitar ao comentário, muitas vezes acrítico, dos noticiários e debates televisivos.
Comemorar esta revolução implica para alguns, um exercício de retórica, para outros, uma referência histórica por concretizar na sua plenitude. Continuá-la, pressupõe saber que existem países onde os direitos mais elementares ainda são negados.
Pressupõe reconhecer que existem espaços na nossa cidade, na periferia do nosso bairro e até no interior das nossas famílias, onde as conquistas de Abril ainda não se afirmaram: a paz, o pão, a saúde, a habitação, a educação...
Quanto tempo ainda será necessário para que, por exemplo, direitos e deveres não sejam atribuídos segundo o género? As conquistas de Abril não podem ser uma realidade aparente. E não existe igualdade de oportunidades.
Somos - todos juntos – o Portugal nascido da Revolução dos Cravos e talvez, em cada 25 de Abril, em cada comemoração, nos seja permitido olhar o caminho já percorrido como uma conquista comum. É necessário não a tomar como garantida ou instituída.
É uma conquista marcada por conflitos conceptuais, ideológicos, políticos, sociais, económicos, culturais... mas todas as sociedades incorporam, em si, tais dinâmicas: são estes mecanismos que as mantêm vivas.
O Portugal contemporâneo não se esgotou no século XX: independentemente dos processos sociais e históricos que têm vindo a transformar-nos, acentuam-se cada vez mais situações de desigualdade, injustiça e exploração.
Não basta demitirmo-nos de responsabilidades acusando o défice, entoando o fado da crise económica ou atribuir as culpas à ineficácia das instituições: estas são formadas por pessoas. Já o eram há 34 anos atrás.
Por isso a luta continua.
Viva o 25 de Abril! Viva a Liberdade!
Quando a convidámos para fazer esta intervenção alusiva ao 25 de Abril, o único objectivo que nos moveu foi, à semelhança de anos anteriores, darmos a palavra aos jovens. A intervenção vai ser lida por mim e não por ela, apenas porque tal nos foi imposto. Mesmo assim, valeu a pena. Em nome da CDU, Obrigado Dulce.
Pertenço a uma geração nascida depois de 1974, caracterizada por alguns como “os filhos da abundância” e descrita por outros como “a geração rasca”; rótulos à parte, é justo afirmar que somos os herdeiros de uma Revolução.
Não se tratou de um apontamento histórico evolutivo, nem de um episódio merecedor de rodapé em determinadas biografias: foi uma Revolução!
Independentemente dos avanços e dos recuos relevam-se o salto qualitativo no pensamento social e uma referência de conquistas históricas para as gerações. Foi uma revolução democrática que nos reconciliou com o mundo e com os povos irmãos.
O tempo é irreversível por isso viver o passado é nostalgia, mas os ideiais que moveram Abril não foram particulares da História do nosso país: são universais.
Numa época em que a palavra globalização é repetida nos media e invocada como palavra de ordem, os jovens têm contribuído para chamar a atenção para os seus perigos: o mundo não é só a mundialização que nos querem impor.
Para além daquilo que surge nos noticiários ou dos resultados em pesquisas na Internet, o mundo é composto por territórios, paisagens, pessoas e estruturas sociais em constante transformação.
Antes do 25 de Abril, muitos dos jovens que hoje têm a idade da Revolução não teriam tido a oportunidade de estudar ou conseguir concluir um percurso académico;
hoje, ao invés de se encontrarem formas de rentabilizar tal mais-valia, sublinham-se as taxas de desempregados com ensino superior, provocadas pelo desinvestimento do Estado como criador de empresas e pela ignorância e falta de formação dos empresários, mais apostados em mão de obra sem direitos; isto sem falar do exército dos restantes desempregados e de tanta precariedade a que se assiste hoje no mundo do trabalho.
Antes do 25 de Abril, grande parte desses mesmos jovens teria sido mobilizada para a guerra colonial a que o regime chamava de ultramarina; hoje, é nas Forças Armadas que muitos deles encontram uma profissão, embora frequentemente temporária e precária.
Quando o Movimento das Forças Armadas - em 1974 - desencadeou a movimentação que pôs em marcha o 25 de Abril, representava muito mais que o movimento: o M.F.A. encarnava todo um país.
O M.F.A. era Portugal: um país contra uma guerra imperialista, contra uma polícia política implacável, contra a exploração do Homem pelo Homem.
Com a Constituição de 1976, a República Portuguesa assumiu-se como a expressão democrática de todos os portugueses, com direitos liberdades e garantias.
A sociedade portuguesa transformou-se e continuará a transformar-se: os tempos contemporâneos – dos quais o país esteve afastado sob o nevoeiro da ditadura – marcam-se pela rapidez com que os acontecimentos internacionais influenciam o nosso quotidiano.
Ao contrário da década de 70, na actualidade, é mais fácil aos jovens alienar-se daquilo que sucede para além do seu círculo de relações.
Mas cada geração tem as suas batalhas: outrora a luta era pelo direito a um regime democrático, hoje a luta é pela participação dos cidadãos nesse mesmo sistema e pela defesa de direitos adquiridos que começam a ser-lhe negados e, contradição das contradições, direitos que a Constituição da República Portuguesa actualmente consagra.
A cidadania é o elemento fundamental da democracia: ser-se cidadão (ou cidadã) implica estar consciente. Como dizia Brecht, “O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguer, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas…”
Não se é cidadão de corpo inteiro exercendo apenas o direito de voto, muitas vezes, com base em campanhas políticas demagógicas, populistas e promessas eleitorais de uma superstrutura ideológica que manipula o pensamento, distorce os factos e subjuga as vontades.
Não é suficiente votar e esperar resultados, num modelo formal, como num passe de magia legislativa. A democracia só o é quando os cidadãos a exercem na sua plenitude.
A participação na sociedade não se pode limitar ao comentário, muitas vezes acrítico, dos noticiários e debates televisivos.
Comemorar esta revolução implica para alguns, um exercício de retórica, para outros, uma referência histórica por concretizar na sua plenitude. Continuá-la, pressupõe saber que existem países onde os direitos mais elementares ainda são negados.
Pressupõe reconhecer que existem espaços na nossa cidade, na periferia do nosso bairro e até no interior das nossas famílias, onde as conquistas de Abril ainda não se afirmaram: a paz, o pão, a saúde, a habitação, a educação...
Quanto tempo ainda será necessário para que, por exemplo, direitos e deveres não sejam atribuídos segundo o género? As conquistas de Abril não podem ser uma realidade aparente. E não existe igualdade de oportunidades.
Somos - todos juntos – o Portugal nascido da Revolução dos Cravos e talvez, em cada 25 de Abril, em cada comemoração, nos seja permitido olhar o caminho já percorrido como uma conquista comum. É necessário não a tomar como garantida ou instituída.
É uma conquista marcada por conflitos conceptuais, ideológicos, políticos, sociais, económicos, culturais... mas todas as sociedades incorporam, em si, tais dinâmicas: são estes mecanismos que as mantêm vivas.
O Portugal contemporâneo não se esgotou no século XX: independentemente dos processos sociais e históricos que têm vindo a transformar-nos, acentuam-se cada vez mais situações de desigualdade, injustiça e exploração.
Não basta demitirmo-nos de responsabilidades acusando o défice, entoando o fado da crise económica ou atribuir as culpas à ineficácia das instituições: estas são formadas por pessoas. Já o eram há 34 anos atrás.
Por isso a luta continua.
Viva o 25 de Abril! Viva a Liberdade!