quinta-feira, 7 de maio de 2009

A RTP e os incidentes do 1º de Maio

O PCP dirigiu uma carta à Direcção de Informação da RTP criticando «o papel a que o serviço público de televisão se prestou na operação montada pelo PS a propósito dos incidentes do 1º de Maio em Lisboa» que ficou marcado, «pelas piores razões, na estante de um jornalismo ditado por critérios de falta de rigor e parcialidade.»

À Direcção de Informação da RTP
O papel a que o serviço público de televisão se prestou na operação montada pelo PS a propósito dos incidentes do 1º de Maio em Lisboa ficará com lugar marcado, pelas piores razões, na estante de um jornalismo ditado por critérios de falta de rigor e parcialidade. Quer seja pela solícita amplificação que o PS, e a sua central de informações, construiram a partir do primeiro momento do incidente, pela repetição acrítica de meias verdades e falsificações ou pelo silenciamento das posições do PCP (alvo directo da campanha montada), a RTP marcou clara presença na tentativa de transformar a mentira em verdade, de procurar inculcar os elementos que no essencial preparassem a opinião pública para a caluniosa operação dirigida contra o PCP. Uma a uma, momento após momento, facto após facto, a RTP ignorou tanto quanto as aparências exigiam os principais visados, deu voz à mentira, silenciou a posição do PCP em que lamentava e manifestava discordância com os incidentes, classificando-os como actos isolados que só responsabilizam os seus autores (insistindo até ao dia 2 à noite na passagem da declaração de Francisco Lopes confinada à questão das desculpas devidas), colaborou activamente na promoção das ideias estruturantes da operação construída pelo PS. A RTP: realizou emissões especiais dedicadas ao acontecimento para dar espaço, sem qualquer possibilidade de contraditório, a «comentadores e analistas» dedicados a ampliar as deturpações e falsificações que a operação exigia; enxameou os estúdios de dirigentes do PS indispensáveis à difusão parcial da sua versão (sem que tenha sido dado igual oportunidade ao PCP); alterou horários de programas já gravados sobre o 25 de Abril e o 1º de Maio; já na posse das imagens da conferência de imprensa do PCP das 20h20 do dia 1 de Maio (que outros canais ainda projectaram nos jornais da noite, caso da TVI através de um directo) a RTP insistiu até ao limite nas declarações do secretário-geral do PCP gravadas num momento em que era reduzida a informação sobre o que pouco antes acontecera em outro local da manifestação (a RTP ainda editou esse registo no dia seguinte no Jornal de Tarde); manteve pela mão dos «comentadores» de serviço do PS e PSD, e em particular de António Vitorino, 48h e 72 horas depois, a difusão das mesmas deturpações e mentiras; mantém ainda hoje na total ignorância, factos sobejamente elucidativos sobre intervenientes directos no incidente que nada têm a ver com o PCP (que seguramente conhece e que outros órgãos de comunicação social já noticiaram) que fariam ruir o castelo de mentiras que quis construir. Com a esperança de que os factos hoje revistos, testemunhos do papel a que a RTP se prestou, relevem enquanto contribuição para a construção de um jornalismo ditado por critérios de independência e menos governamentalizado, receba os nossos cumprimentos
Jorge CordeiroMembro da Comissão Política do PCP
Lisboa, 5 de Maio de 2009